Ser criança é cultivar diariamente os sonhos e os encantos do mundo imaginário. "Isso inclui vivenciar as crenças, como a Páscoa e a existência do Coelhinho", explica a professora Leda Mariza Bernardino, doutora em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade de São Paulo (USP). "É importante que os pais mantenham essa fantasia, cumprindo os rituais. As crianças precisam ter isso para enfrentar os desafios da vida cotidiana."
Leda lembra que o "mundo do faz-de-conta" é uma proteção imaginária para os pequenos, uma forma de eles se defenderem da realidade, no caso o mundo dos adultos, para o qual ainda não estão preparados. "Às vezes as crianças se sentem impotentes diante de certas situações. Mas conseguem concretizar seus anseios nessa fantasia. Esse é o exercício para a vida adulta."
A especialista condena a atitude de pais que descaracterizam essas crenças e cobram desde muito cedo dos filhos comportamento reservado apenas para a idade adulta. "Está se perdendo o respeito pelo universo da criança. Elas têm que brincar, sonhar", justifica.
Leda alerta, no entanto, que existem limites para essa fantasia dentro do processo de desenvolvimento da criança. "No contato com a educação formal, na fase de alfabetização, por volta dos 6 anos de idade, que naturalmente eles abandonam o pensamento mágico e passam a buscar a lógica." Para os pais que confrontarem com questionamentos inevitáveis nesta fase – tais como "mãe, você é o coelhinho?" –, ela recomenda o diálogo franco, mas dosado. "Estabeleça um jogo com a criança, pergunte o que ela pensa sobre isso e aos poucos ela mesma vai perceber a realidade", finaliza.